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Auto-Cuidado / Blog

Terapias Complementares e Não Convencionais: resultados reais ou banha da cobra?

Há algumas semanas saiu um artigo de opinião num conhecido jornal português no qual o autor apelidava as Terapias Complementares e Não Convencionais de pseudociências e as colocava no mesmo saco dos movimentos negacionistas, em particular em relação à pandemia da COVID-19.

Este artigo não me deixou indiferente, porque sendo eu (além de Health Coach) terapeuta certificada de Reiki, conheço a realidade destas terapias e irei partilhar contigo mais informação ao longo deste artigo.

Duas coisas que me chamaram à atenção e me fizeram querer abordar o assunto foi a nomenclatura utilizada pelo autor ao chamar a estas práticas de “terapias alternativas” e o factor de o autor claramente não compreender que nenhuma Terapia Complementar e Não Convencional pode ser exercida sem formação, certificação e cumprimento de normas legais. Com as suas afirmações e opiniões o autor do artigo demonstrou uma enorme falta de conhecimento em relação a este tema e todo o artigo é um ataque gratuito a algo que, claramente o mesmo não acredita.

E atenção: está tudo certo em não acreditar até porque estas terapias têm um certo nível de subjectividade. Mas se algumas destas terapias são validadas pelas entidades que nos governam (mais sobre isto abaixo) e existem pessoas a ter benefícios e melhoria do seu Bem-Estar das prática dessas terapias, acho que é preciso respeitar essas práticas e os profissionais que se esforçam para as praticar da forma mais idónea possível.

Com este artigo não pretendo mudar a opinião de ninguém sobre este tema, apenas providenciar informação útil que ajude quem procurar estas terapias a tomar decisões conscientes e informadas. Vamos a isso?

Uma questão de nomenclatura…

Antes de mais, chamar a estas terapias de “Terapias Alternativas” é profundamente errado. Nenhuma terapia é alternativa ou subtituta de nada.

Por exemplo, se uma pessoa tem um cancro, a forma convencional de o tratar é no hospital com uma equipa multidisciplinar que executa a cirurgia de remoção (se for o caso) e procede aos tratamentos de quimioterapia e radioterapia se necessário. Não é como pudéssemos usar uma sessão de Reiki (ou várias) como tratamento alternativo. Porém, nesta mesma situação, o Reiki pode ser aplicado a par com os procedimentos médicos de forma a ajudar a pessoa doente a sentir-se mais calma e tranquila, aumentando assim a sua sensação de Bem-Estar e permitindo que a pessoa consiga encarar os tratamentos médicos de outra forma. E quem diz Reiki, diz qualquer outra terapia que promova o Bem-Estar da pessoa e não entre em colisão com os tratamentos médicos.

Assim, a nomenclatura correcta será “Terapias Não Convencionais” porque estão fora das linhas de tratamento convencionais da Medicina Ocidental e “Terapias Complementares” porque podem servir de complemento a terapias convencionais da Medicina Ocidental. De novo, NUNCA “Terapias Alternativas” porque estas terapias não podem ser uma alternativa, ou uma substituição, de outras.

Nenhuma Terapia Complementar e Não Convencional pode ser exercida sem a devida formação e certificação.

Uma das primeiras coisas que me chamou à atenção foi que algumas das terapias mencionadas como exemplos da “banha da cobra” no dito artigo são terapias autorizadas e reguladas pela Direcção-Geral de Saúde (DGS) e são terapias para as quais é inclusivé necessária formação no Ensino Superior (licenciatura, mestrado) para exercer através de um curso devidamente regulamentado pela Direcção-Geral do Ensino Superior (DGES). Inclusivé, algumas Terapias Complementares e Não Convencionais são providenciadas em Hospitais Públicos e fazem parte dos planos de estudo de outros cursos superiores como o Mestrado Integrado em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e a Licenciaturam em Enfermagem na Escola Superior de Enfermagem do Porto.

Na prática isto significa que apesar de serem Terapias Não Convencionais, se regem por uma legislação em tudo semelhante à das Terapias Convencionais, quer a nível de formação e certificação como na obtenção de cédula profissional e prática diária segundo um Código Deontológico.

Claro que nem todas as Terapias Complementares e Não Convencionais são exercidas com formação superior e regulamentadas pela DGS. Mas isso não significa que não são sejam devidamente regulamentadas. Existem entidades com validade legal que regulamentam a prática dessas terapias e asseguram que a prática das mesmas cumpre determinados requisitos (não só da prática em si, mas também das condições de Segurança e Higiene e até dos valores que podem ser cobrados).

Vou dar como exemplo o Reiki, novamente. Em Portugal existe a Associação Portuguesa de Reiki (APR) que disponibiliza um Código de Conduta e de Ética que todos os terapeutas de Reiki devem seguir na sua prática. A APR tem regras claras sobre como deve ser feita a formação na área, tabelas de preços consoante as terapias realizadas e constantemente emite comunicados em linha com as orientações do Governo Português. Tem também uma Comissão Nacional de Ética para a Terapia de Reiki, ou seja, se houver algum problema durante uma terapia ou ensino da prática é possível recorrer a esta Comissão.

O grande problema: a falta de validação científica.

É um facto: existem poucos estudos para as mais diversas Terapias Complementares e Não Convencionais e os que existem têm falhas na metodologia. Não vou contrariar isso, e sem dúvida que mais e melhores estudos devem ser feitos para segurança e benefício de todas as partes envolvidas.

A falta de estudos também acontece porque não é um tema fácil de estudar segundo um modelo científico. Nestas terapias nem sempre é possível fazer uma sessão ou conjunto de sessões padrão a todas as pessoas envolvidas já que muitas vezes são sessões altamente invidualizadas e adaptadas às necessidades únicas das pessoas que recorrem às terapias. E claro, os resultados são altamente subjectivos e difíceis de quantificar.

Mas, de novo, é preciso encontrar uma forma de obtermos mais e melhores estudos para segurança de todas as partes envolvidas.

Resumindo e Concluindo:

As Terapias Complementares e Não Convencionais não devem ser encaradas como uma alternativa à Ciência, mas sim como algo que pode caminhar ao lado da mesma para promover uma maior Saúde & Bem-Estar.

No momento de recorrer a uma destas terapias, existem alguns requisitos a ter em conta para garantir que tens a melhor experiência possível:

✅ O/A terapeuta tem formação e certificação para exercer a terapia em questão (no caso das terapias regulamentadas pela DGS deve também ser portador/a da devida Cédula Profissional);
✅ O/A terapeuta trabalha como colaborador/a numa empresa/clínica devidamente registada e/ou está registado/a como trabalhador/a independente junto das entidades competentes;
✅ O espaço onde é realizada a terapia está devidamente sinalizado, é limpo e agradável, permite total privacidade durante a terapia, e cumpre as normas de Higiene e Segurança determinadas na Lei.

Além destes requisitos, é importante também teres atenção a alguns sinais de alerta:

? Existe incentivo ao abandono de um tratamento convencional em prol da sua terapia;
? São feitas promessas de cura total de doenças graves, raras e/ou crónicas;
? O/A terapeuta tem uma posição de negacionismo em relação à evidência científica;
? Após a terapia existe mau-estar durante dias a fio.

Cumprindo todos os requisitos e não existindo nenhum sinal de alerta, terás todas as condições para experimentar ou receber de forma regular a terapia em segurança e com benefícios para o teu Bem-Estar.

E repito o que disse no início do artigo: ninguém tem obrigação de acreditar nestas terapias mas quem não acredita tem o dever de respeitar e não julgar quem recorre às mesmas e sente melhorias no seu Bem-Estar, bem como respeitar os terapeutas que exercem com ética e profissionalismo.